Fala, pessoal, sejam bem-vindos à edição #15 da newsletter “dudu escreve”. É sempre um prazer ter vocês por aqui.
até a próxima
Eu nunca hesitei no pensamento que a minha escrita me levaria longe. Porque longe não é um lugar. Nem um valor em dinheiro. Para mim nunca foi, mesmo podendo ser. Não titubeei, ainda que alguém me falasse que eu não iria a lugar nenhum, porque já estava viajando quando isso pensava.
E comigo você foi, através dessa newsletter, quinzenal e gratuita, de metrô encontrar o amor ou vê-lo partir. Foi apresentado ao Sikinofish e todas as suas particularidades. Tomou nota baixa no uber com Sabrina. Foi ao Bar Luiz tomar um chope a convite do Enzo, meu professor. Viajou nas reflexões sobre a escrita de Hemingway, Machado e Lygia Fagundes. Viveu um romance de Ernesto e Rosa. Percebeu que o amor é insuperável. Jogou bola com Djamila na Cidade de Deus. Ficou em silêncio com os bibliotecários. Sangrou com Danilo e Perla. Flanou com Pierre e Elba. Ouviu Marisa Monte lendo a vida de Helena. Foi à Geral do Maraca com Seu Manoel. Olhou os idosos de outra forma. Foi à Coreia com Gabigol na garupa.
Viu como juntos fomos longe? Eu não conseguiria sem vocês, meus queridos leitores, com suas leituras atentas, comentários e mensagens. E também críticas. Que certamente me fizeram repensar a minha escrita, mas não a minha vontade de seguir escrevendo.
Mas apesar de a viagem estar muito boa, chegou a hora de dizer adeus à publicação quinzenal desta newsletter.
A verdade é que eu já estava há semanas com um texto de despedida mais ou menos rascunhado, antes mesmo de começar as edições #13 e #14, mas joguei tudo fora. Só de pensar em me despedir, sentia um vazio no peito, como se um grande amigo estivesse prestes a ir morar longe de mim - experiência que vivi duas vezes em um pouco mais de um ano com Bernardo e Luiza.
Só que, dessa vez, parece que quem está indo embora sou eu.
Para explicar o porquê, vou voltar um pouco atrás, em um cafona momento de retrospectiva, exercício que me assombra em todo final do ano, mas que é quase inevitável. E, aproveitando a cafonice, vamos a uma outra, que é contar um pouco dessa história de maneira rimada:
Quebrando a cara iniciei o ano,
E resolvi deixar pra trás o que me parecia kafkiano.
Decisões determinantes tive que tomar,
Que à época pareciam montanhas impossíveis de escalar.Duvidei de mim, busquei terapia,
Me culpei e martirizei, sempre em melancolia.
Então me afaguei e me acolhi, para tentar voltar a sorrir
Vi que é sempre o Tempo Rei quem vai me conduzir.Tracei metas que pude alcançar,
E outras inalcançáveis, porque não custa sonhar.
Viajei bastante, estudei idiomas, pessoas conheci,
Em cada encontro, algo valioso aprendi.Nadei por mares nunca dante navegados, desconhecidos,
Num namoro e mestrado, descobri novos sentidos.
Nova labuta também veio a começar,
Em uma fresca estrada que pretendo bem trilhar.Vi de perto meus velhos envelhecerem com graça,
Entre as suas agruras, a beleza sempre passa.
E o crescer da minha sobrinha, um raio de luz,
Espalha vida por onde conduz.Entre dores, risos e lições,
Consegui arrancar alguns grilhões.
Do caos à calmaria, fui persistente,
Me reinventando sempre, a cada caldo e corrente.
E a coisa mais valiosa do ano, que não coloquei nesses versos expressamente, foi a prosa que escrevi em 2024, que foi uma das grandes responsáveis por “arrancar alguns grilhões”.
Além dos 14 textos publicados nesta newsletter, também postei outros 15 no meu Instragram pessoal (@moraeseduardo) e mais 4 no Jornal Plástico Bolha, do curso de Letras da PUC-Rio, a convite do Lucas, a quem agradeço pela oportunidade. É claro que não dá para esquecer dos 2 textos escolhidos para compor antologias das editoras Vila Rica e Cartola. Foram 35 textos só online, fora os outros muitos que descansam no meu bloco de notas e nos meus cadernos, que deixo ao lado da cama e na mochila que me acompanha diariamente. O ano de 2024 foi, disparado, o que mais botei no mundo as minhas palavras.
Para escrever o texto de hoje, tentei voltar em todas as publicações feitas e reler os comentários, além de procurar algumas mensagens que recebi no privado depois de algumas publicações e olha… não teve como não chorar. Principalmente com os dizeres de pessoas que não tenho proximidade, que escolheram se abrir para um desconhecido escritor amador, mostrando suas intimidades, saindo da casca e me fazendo sentir um pouco do que elas estavam vivendo.
E esses textos não me deram apenas a oportunidade de conhecer pessoas novas, de me reaproximar de outras e de receber impressões e reações - não só positivas - de completos desconhecidos que foram tocados pelas minhas palavras. Eles me deram a chance única de ficar ainda mais meu amigo, de refletir sobre o ecoar das minhas e de todas as palavras, me ajudaram a me perdoar e perdoar quem me feriu e de entender de uma vez por todas que ano novo é todo dia e que a virada do 31/12 para 01/01 é apenas mais um.
E no meio dessa grande conversa comigo mesmo, decidi que pararia com o modelo quinzenal da newsletter na última edição do ano, ainda que eu saiba que será dolorido e difícil. Prometo que não recorrerei aos versos para explicar o motivo, mas talvez divague um pouco, com transparência, porque acredito que devo essa satisfação aos meus fiéis leitores. Vamos lá.
Como disse nos versos do início, comecei o ano muito mal. Comigo mesmo, nas relações que cultivava e me via numa constante frustração. Como nos dias de mar agitado na praia de Copa, meu quintal de natação e devaneios, tive que levantar a cabeça e decidir como traçaria a rota, não para sair do mar, que estava revolto, mas para saber como chegar nas águas mais calmas. Para isso me organizei bastante, fiz planilhas ridículas das mais diversas coisas (Mariana é a prova disso) para me ajudar a definir bem o que sairia, o que ficaria e o que entraria na minha vida. Depois de muita reflexão, conversas, trancos, barrancos e decisões difíceis, acredito que consegui organizar da melhor maneira que pude o meu ano e programar minimamente a minha rotina.
E uma das coisas que estava dentro dela era a escrita ao público, vamos assim dizer. Para quem não escreve, talvez pareça pouco publicar 35 textos em um ano de 52 semanas, mas isso realmente ocupou um tempo bem relevante da minha vida. Refletir, escrever, anotar, jogar tudo fora, se arrepender disso, voltar a escrever, se julgar, achar tudo uma merda, achar maravilhoso, achar chato, achar cool, se achar burro, se achar genial, se odiar, se amar, ler, reler e, depois disso tudo, publicar. Toma tempo.
Achei que criar uma regularidade no Instagram (semanal), aqui (quinzenal) e no Plástico Bolha (mensal) fosse ajudar. E, de fato, ajudou. Só que também criou a obrigação, que se juntou a todas as outras que assumi neste meu movimento de recalcular a rota de 2024. E quando eu me comprometo, é de corpo e alma, que entreguei em todas as edições até hoje, sem dúvidas.
Mas percebi que as obrigações profissionais e acadêmicas que assumi para 2025 (sendo que uma delas começa na semana que vem) seriam incompatíveis com o modelo quinzenal e com tudo que envolve a preparação de uma edição. Eu me frustaria demais chegando em um sábado sem texto para publicar ou escolhendo publicar “um qualquer” apenas por “obrigação”. E uma coisa que coloquei como meta do ano é evitar empilhar obrigações que não posso cumprir e, por isso, prefiro ser sincero, para não me frustrar e não frustrar as pessoas com quem me comprometi. Quero entregar o meu melhor, sempre.
Falando em não entregar “qualquer coisa”, lembrei de um ditado romano que gosto muito, mas que merece uma anedota antes. Ouvi falar uma vez, ou seja, não sei quem foi que me contou essa mentira, que os romanos falavam os ditados pela metade. Como se dissessem só “água mole em pedra dura” pressupondo que o interlocutor ia saber que “tanto bate até que fura”. O ditado é o seguinte: “faciunt favos et vespea” que quer dizer: “as vespas também fazem favos”, tendo como complemento “mas só as abelhas fazem mel”.
A ideia é que tem coisas que qualquer um pode fazer, mas o “mel”, são poucos. Pode até parecer papo de botequim - que também tem muito valor - mas é só um texto sincero de adeus e a minha maneira de expressar que quero entregar o mais puro mel a quem lê as minhas palavras.
Tudo isso para dizer que, para mim, a escrita é coisa séria e esta newsletter é um grande compromisso. Com os leitores e comigo mesmo. Portanto, afirmo que não deixarei de lado a escrita, nem pretendo acabar com a newsletter, mas devo passar a publicar esporadicamente, talvez uma vez por mês, talvez mais, talvez menos. Mas sempre com um texto que eu acredite que mereça ser publicado e à altura dos meus leitores.
E deixo algumas coisas no ar: em 2025 tenho outros projetos literários programados e alguns até em curso, mas que ainda não posso revelar, além do meu romance, que escrevo em paralelo a todas as outras escritas. Todas as novidades serão avisadas por aqui, não tenham dúvidas.
E é com essa grande viagem e reflexão, com dor no coração e lágrimas nos olhos que eu termino essa última edição de 2024 da newsletter sem saber quando será a próxima.
Mas eu volto, tenha certeza disso.
Obrigado por me acompanhar esse ano. Sem leitor, não tem escritor.
Um abraço apertado e feliz ano novo,
dudu
Caso queira deixar um comentário ou mensagem de adeus até logo, pela plataforma ou respondendo a este email (que só chega para mim), a hora é agora!
E esta foi a edição #15.
Nos vemos não sei quando, não sei que dia, nem que horas, mas nos vemos por aí!
Aproveite os textos antigos, todos eles estão disponíveis aqui.
Obs: todas as músicas que embalaram as edições estão reunidas na playlist dudu escreve no Spotify.
Obs2: Eu indiquei alguns bons livros nas edições passadas, todos relacionados de alguma maneira ao principal tema abordado no texto, vale a busca!
Vc é abelha que produz mel puro, sincero, honesto, bem humorado e transparente ❤️
Melancolia inspira muito, assim como alegria 🥰
Adorei "cafona momento"
Siga escrevendo sempre! Até breve...😘💕
Você já começou a viagem. Não tem volta
Trace seu caminho na escrita. Confiança e fé
fé
Estamos juntos. bj