Fala, pessoal, sejam bem-vindos ao texto #3 da newsletter “dudu escreve”. É um enorme prazer ter vocês por aqui.
Na última semana, algumas pessoas vieram falar que não receberam os textos no sábado passado, e por isso aproveito esse espaço para lembrar que a newsletter é quinzenal!
Assim sendo, hoje tem “dudu escreve”, mas no sábado que vem não, só voltamos no dia 27/07, sempre às 10h. Eu tenho postado textos no Instagram nas semanas que não tem newsletter, então acompanhem por lá também! O último foi esse.
Dicas da edição #3:
Dica musical: como estou enviando esta edição diretamente da Colômbia, aproveito para indicar uma playlist das melhores da Shakira que encontrei no Spotify. Não tem jeito, é muito hit!
Dica literária: Morte e vida de grandes cidades - Jane Jacobs . Talvez, se tivessem lido (e seguido o que diz) esse livro na década de 80, o bar que menciono no texto de hoje e outros negócios do Centro do Rio não tinham falido. Recomendo demais essa obra linda da Jane Jacobs.
Dedicatória
O texto de hoje é dedicado ao meu professor Enzo, que acabou originando uma das melhores lembranças dos meus 5 anos de UFRJ.
Dedico também ao meu amigo Daniel, que viveu comigo, do início ao fim, a história que contarei hoje.
E, por último, mas não menos importante, dedico este texto aos bares do Rio de Janeiro e aos seus frequentadores, assíduos ou não, que fazem essa cidade ser mais viva.
Vamos ao texto!
A urgência de Enzo
Em meados de 2019, no início do 5º período da faculdade, o professor de Direito Comercial - empresarial para quem não é do Direito - citou, no meio de uma de suas aulas, que o Bar Luiz, na Rua da Carioca, estava prestes a fechar as portas pela quinquagésima vez.
Mas ele não apenas citou. Enzo, como ótimo professor que é, construiu uma narrativa perfeita para gerar um sentimento de urgência: começou contando dos pratos típicos, do chope gelado e da serpentina mágica do recinto. Depois, falou dos garçons e dos antigos frequentadores, famosos ou ilustres desconhecidos. E, para tornar a história mais emotiva e pessoal, contou também das suas vivências no lugar. Para finalizar a dramatização, comentou que lugares neste estilo não eram mais valorizados como antigamente, que o bar estava mal das pernas, à beira da bancarrota e que qualquer visita e despesa, ou melhor, investimento, seria de grande valia para tentar impedir que falisse.
E que falência era uma matéria que veríamos mais à frente, de modo que não gostaria de citar o Bar Luiz como um exemplo de sala de aula.
Alguns alunos não ligaram muito para o discurso, outros nem ouviram, mas um outro grupo, que rapidamente se encontrou pelo olhar, combinou tacitamente o lugar do pós-aula. Eu, felizmente, fazia parte dele.
E lá fomos nós.
Andamos da Central à Carioca. Esperamos na fila sem reclamar. Conversamos, mesmo sem muita intimidade com todo o grupo. Curtimos o Bar Luiz como se fosse nosso. Tomamos o chope como se todos os goles fossem o primeiro. Comemos petiscos como se fossem os melhores do mundo - mas que realmente estavam muito bons. Admiramos a decoração clássica. Depois nos despedimos, sem olhar muito para trás, e seguimos caminho para as mais diversas partes do Rio, algo bem comum na UFRJ.
E hoje, ao escrever essas palavras, reflito como foi boa aquela urgência gerada pelo professor, que acabou dando um significado especial a um dia normal e a muitos outros elementos que compuseram o momento que descrevi.
A urgência de Enzo me fez valorizar ainda mais as calçadas do Centro do Rio e o privilégio de caminhar por elas. E também o chope, o chucrute, as salsichas alemãs, os bares clássicos ou novos e até o esperar na fila. Ajudou a apurar meu olhar. Fortaleceu um laço que estava em construção com um amigo que tenho até hoje. E gerou uma conexão entre alunos que nunca tinham tido nenhuma interação além de cumprimentos sem graça e que agora sorriam ou acenavam com a cabeça quando se esbarravam pela faculdade.
A urgência de Enzo deu outro significado às suas aulas e a ele mesmo, que me mostrou o quanto valorizava a cadeira que ocupa na UFRJ e também a importância dos negócios, pequenos ou grandes, clássicos ou novos, para dar vida a uma cidade e fazer a sua roda girar.
Enzo poderia ter contado a história de outra maneira, sem muita emoção, ainda que estivesse emotivo. Mas o jeito como ele contou gerou um sentimento genuíno no coração de um grupo de alunos que decidiu marchar em direção à recuperação de um bar que nunca foi deles. E por isso defendo que a urgência, que pode, sim, ser negativa e gerar certa ansiedade e “necessidade” por algo completamente dispensável ou desimportante, também tem o seu valor de quando em vez.
É boa a urgência de dizer eu te amo. De doar às vítimas do desastre no Rio Grande do Sul. De encontrar a tua avó que está velhinha. De matar a fome de alguém que te pediu para inteirar um pf no barzinho da esquina do seu trabalho. De se declarar para um amigo que você não sabe quando vai rever.
Como também foi boa a urgência de tentar recuperar um bar que estava à beira da falência, ainda que isso tenha acabado acontecendo alguns anos depois.
Só sei que não faliu antes pela urgência de Enzo e pelo chope que lá fomos tomar.
E esse foi o texto #3!
Nos vemos no dia 27/07, na edição #4 desta série, sempre às 10h, na sua caixa de entrada!
Muito obrigado pela leitura!
Gostou do texto? Curta, comente e compartilhe com alguém que pode gostar de dudu escreve.
Excelente. História que guardamos no inconsciente e nosso baú
Bar Luiz, bem charmoso!!