Fala, pessoal, sejam bem-vindos à edição #6 da newsletter “dudu escreve”. É sempre um prazer ter vocês por aqui.
Dicas da edição #6:
Dica musical: minha playlist “aquelas pra quem tá apx”. O nome já diz tudo, mas também serve para quem (ainda) não está apaixonado.
Dica de filme: Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças com Jim Carrey e Kate Winslet. É ótimo, mas faz sofrer. Tá avisado.
Dica literária: O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez. Quanto mais avançava na leitura deste livro, maior ficava o pensamento que não há mais nada a escrever sobre o amor. Considerando isso, o texto de hoje não traz nada de inovador a respeito do sentimento que o gênio e imortal Gabriel dissecou e expôs ao mundo da melhor maneira possível, sendo esta apenas a tentativa de um mero mortal, que se sente movido pelo amor acima de tudo, de refletir sobre algumas de suas nuances.
O texto de hoje é inspirado nesse livro (e não sobre) e no amor de Florentino Ariza, que ficou 51 anos, 9 meses e 4 dias esperando por sua amada. Dizer mais que isso seria spoiler, tanto do livro quanto do texto.
Dedicatória
Dedico o texto de hoje à Mariana, minha namorada, que faz aniversário amanhã. Te amo.
Vamos ao texto!
O amor é insuperável
Não passe naquela sorveteria para comer sorvete de manga. Mude o trajeto de carro para não passar naquela rua. Não vá à feira da Glória. Evite passeios de bike no pôr do sol. Não frequente o Samba do Trabalhador. Esqueça a Praia do Arpoador. Não estude francês. Entre no último vagão do metrô ao invés do primeiro. Não veja os filmes do Scorsese. Desapegue da esfirra do Largo do Machado. Não faça mais aquele risoto. Jogue fora as cartas e dedicatórias. Não coloque manteiga no café. Nada de Gilberto Gil, volte a escutar Bethânia. Não peça McChicken quando for ao McDonald's de madrugada. Troque Arraial do Cabo por Paraty. Não leia mais Valter Hugo Mãe.
Tem quem acredite que isso dá certo. Mas não adianta absolutamente nada. Nadica de nada mesmo. Coisa nenhuma. Patavina. Bulhufas. Neca de Pitibiriba.
É que não foi o sorvete. A rua. A feira. O pedalar com o sol da tarde. O samba. A praia. E nenhum dos outros lugares, músicas ou coisas.
O que pegou não foi o “te amo” no final da carta, mas o modo de escrever o que veio antes.
Nem a piada ruim, mas o jeito de contar com um sorriso no canto da boca.
Fala sério, aquele risoto nem ficou tão bom, mas aquele dedinho a mais de pimenta, aquele cheirinho de coentro no fundo, a marca registrada, que te derreteu.
Então faça o seguinte: continue a estudar francês. Entre em qualquer vagão do metrô. Veja os filmes do Scorsese. Coma a esfirra do Largo do Machado. Coloque manteiga no café se você realmente gostar. Ouça Gil em looping e escute também Bethânia - se bem que ela faz sofrer de amor mesmo não estando em sofrimento. Peça McChicken quando for ao McDonald's de madrugada, ou Big Mac se estiver afim. E leia Valter Hugo Mãe.
Porque nenhuma dessas coisas, trilhas sonoras e lugares pertencem ao outro. Ou a você. Apesar de terem pertencido quando os dois eram um. Mas não são mais. E todas elas voltaram a ficar sem donos e voltaram a ser de qualquer um.
O que fica e permanece com você, infinitamente, é o que aquela experiência te ensinou e te fez sentir, e o que você fez com este sentimento. Isso é amor também. Ainda que para o outro não tenha significado nada. Ainda que o outro não ligue, não valorize e até esnobe. Mesmo que ela nunca tenha te amado de volta. Porque a experiência da dupla, muito valiosa, é claro, também foi individual e única. Mesmo que mais para frente você comece e aprenda a amar outra pessoa, aquilo tudo ficou aí dentro e te fez chegar no lugar onde você está hoje.
Logo, repito: esse conjunto de coisas que ficou, é seu, para sempre. É a bagagem que você vai carregar para sempre, mas que não precisa ser pesada.
Os lugares, as músicas e as coisas, ainda que belos e memoráveis, foram meros cenários, trilhas sonoras e objetos que ilustraram a cena. E por isso podem ser cenários, trilhas e objetos de novos amores, por que não? Até com a mesma pessoa, em uma nova fase do romance, já pensou?
O que quero dizer é que você pode superar a pessoa, de carne e osso, mas nunca o amor que ela te fez sentir. Ele fica entranhado em você. Não o seu por ela, mas pelo que ela te fez vivenciar. Esse amor que é insuperável.
E pode até ser bem pesado enquanto você ainda não superou a pessoa propriamente dita, por ser difícil de dissociar um amor do outro, mas eu juro que um dia, quando um se soltar do outro, ele fica leve como o ar, como a maioria dos amores maduros.
E eu acredito firmemente que esse jeito de pensar é também uma forma de amor próprio. De valorizar o seu ato de valorizar. De dar importância ao que importa para você. De apreciar o seu modo de aprendizagem com o outro. E o contrário também. De entender o que não tem valor ou importância para você e o que não tem nada para te ensinar. Por essa razão, tento levar essa ideia para o meu atual namoro e espero carregar para sempre comigo, pois também vale para os romances presentes, não só para os passados.
Digo isso porque tudo que vivo atualmente com a Mariana tem uma relevância para mim e outra para ela. Eu certamente valorizo mais certos momentos, enquanto ela prestigia mais outras coisas que talvez eu não ligue tanto. E não tem um certo e um errado nessa história. Tem amor, isso sim, vivido em conjunto, mas de maneiras diferentes. Meu por ela, dela por mim e nosso pelo que vivemos.
Portanto, dedico este texto à Mariana, não só porque amanhã ela fica mais velha, mas também por acreditar que nós, carregando a nossa bagagem prévia, mais leve do que já foi, ainda temos muito a viver, aprender e construir. Unidos, mas independentes, em dupla, mas também sozinhos, no caminho nosso, mas também no dela. E no meu, é claro.
A única certeza que eu tenho é que tudo que senti nos momentos que vivemos, nos caminhos que trilhamos, escutando as músicas que ouvimos juntos e nas coisas que fizemos, serão, para sempre, insuperáveis.
Feliz niver, te amo. <3
dudu moraes da dudu escreve - muito a dizer
E esta foi a edição #6!
Nos vemos no dia 07/09 na edição #7 desta série, às 10h, na sua caixa de entrada, com uma novidade!
Muito obrigado pela leitura!
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lembrei de uma frase da clarice que fala: o amor já está, falta só o golpe da graça! a verdade é que o amor sempre está e o amor sempre fica. texto lindooo 🫀✨
Impecável, como sempre, Dudu!
Obrigada!
🥰🥰🥰