Fala, pessoal, sejam bem-vindos ao segundo texto da newsletter “dudu escreve”. É um prazer ter vocês por aqui.
Confesso que ainda estou me adaptando a essa plataforma, mas estou gostando dela. Parece que os perfis bombados daqui usam muito as “Notas”, que não chegam no email, mas ficam aqui no perfil do autor no Substack. Talvez eu faça isso, talvez não. Mas decidi que de vez em quando postarei textos no Instagram, como fiz na semana passada. Vou deixar o link dele para quem não leu e tiver interesse: “amor nos tempos de medianeras”.
O texto de hoje é direcionado (e porque não dedicado) especialmente aos simpáticos compulsivos, golden retrievers e/ou aos “vereadores” de plantão. E vocês sabem que todo texto tem “um quê” de autobiográfico. Mas, pelamor, nem tudo que escrevo sobre um personagem tem a ver comigo, então não fiquem achando que eu sou 100% como a personagem de hoje, ou como o Severo, da série de textos que lancei no Instagram - quem não sabe quem é Severo, basta ir ao meu perfil @moraeseduardo e ler os textos #2 e #7 da série “fotos com legenda ou legenda com fotos”.
Os links estão aqui:
Aproveito também para deixar #dicas:
Para ler o texto ouvindo: Ovelha Negra - Rita Lee
Para voltar à infância (ou não): Flicts - Ziraldo
Falei à beça, me perdoa, era saudade! Vamos ao texto de hoje. Espero que gostem.
Obs: caso queira fazer algum comentário você pode fazer tanto pela plataforma quanto respondendo a este email. Fica tranquilo que a resposta é encaminhada apenas para mim.
4.57☆
Sabrina anda na rua de manhã a caminho do trabalho como se estivesse em uma cena de musical. Aparenta estar sempre de bem com a vida, alegre, acordando da melhor noite da sua vida. Só falta cumprimentar o poste da rua. Chegando no ponto de ônibus, atende religiosamente à ligação de telemarketing da péssima empresa de telefonia e sustenta a conversa por longos minutos. Sem tirar o telefone do ouvido, dá um trocado para um rapaz que fica encostado diariamente na porta da padaria. Quando chega o busão, sobe se despedindo dos parceiros do ponto.
A empresa em que trabalha até dá um Riocard gordo, mas por outro lado só reembolsa o carro de aplicativo depois das 20h. E é por isso que, em horário comercial, costuma se deslocar de transporte público. E são muitas as idas e vindas para reuniões pela cidade. Mesmo esgotada, não senta nos bancos do ônibus, trem ou metrô, mesmo quando estão vazios. Não o faz porque sabe que ficará sempre na iminência de ceder o lugar a alguém. Senhorinhas. Grávidas. Pais com filhos pequenos. Apenas escolhe não sentar. Não se sente à vontade. Um olhar de reprovação a incomoda mais do que gostaria. E o sentimento de estar sendo mal educada também.
Tem dias que seu chefe exige que esteja na Carioca às 10h em ponto, depois de uma reunião na Barra que termina às 9h30. Baita esculacho, diga-se de passagem. É aí que, mesmo sem reembolso, tem que chamar um carro.
Pode estar tudo desmoronando, mas sempre entra no carro com um bom dia caloroso acoplado. E não é aquele protocolar, por educação. Mas não só com ele, pergunta também “como vai você?” esperando interagir com a resposta. Se vê o escudo de algum dos clubes do Rio no painel do carro, já fala de futebol, saúda os vascaínos e faz graça com os demais. Mascara muito bem a sua dor. Tenta ser gentil. Puxa mais assuntos, é solidária às fraquezas do seu transportador. Se ele engata em algum assunto, endossa energicamente quando concorda. E mesmo discordando, quando o piloto defende algo com unhas e dentes, ela concorda também. Seja Lula, Bolsonaro, os ambientalistas ou madeireiros. Até mesmo se for alguma besteira inacreditável que fere 42 direitos humanos. No máximo procura falar menos, mudar de assunto, sutilmente. Tudo para não ser um incômodo. E ainda assim a sua nota no aplicativo é 4.57☆, em 5.
E talvez seja o excesso de gentileza o seu problema.
Ser assim dá uma confusão danada na cabeça. É um vício quase sem volta. Ela tinha esperança que fosse só quase. Dá um trabalho surreal manter uma cara alegre quando por dentro você está sofrendo.
Ninguém está sempre 100%. De bem com a vida. Ou disposto a falar de futebol. Dos problemas pessoais alheios. Ou próprios. Das fraquezas da vida sem demonstrar abalo algum. Ou ouvir atrocidades e ficar calado. Ninguém tem esse sangue de barata.
E é isso que ela sabe que tem que mudar! Sabe que não tem nada a ver com ser mal educada. Educação é o mínimo. O problema é o excesso de gentileza, de exarcerbação do estar de bem com a vida. Como se fosse sair daquele carro direto para um chope gelado com seus amigos. E é por isso que às vezes ela explode. Chora, corre, grita, deita, se exalta, resolve comer um fast food em plena terça-feira. Isso é insustentável e de uma indelicadeza e desvalorização própria sem tamanho.
Além de ser chatíssimo para o outro lado também. Deve ser por isso que a sua nota de avaliação anda meio baixa no aplicativo.
Sabrina fica pensando no motorista, ouvindo seus dizeres e abordagens. E lembra daquele vídeo da Rita Lee: “Ela é toda boazinha, ela é toda do bem, ela é tão galera... Chata pacas!” Deve se sentir nervoso, diminuído e até com raiva! Quem consegue manter essa compostura toda, essa pose toda, esse sorriso indeciso? Ah, pelo amor, moça, não merece 5 estrelas não, vou te dar é 3! Passar bem!
E esse foi o texto #2!
Nos vemos no dia 13/07 na edição #3 desta série, às 10h, na sua caixa de entrada!
Muito obrigado pela leitura!
Gostou do texto? Curta, comente e compartilhe com alguém que pode gostar de dudu escreve.
acho que toda mulher é meio sabrina até entender que não agradar é liberdade e potência. e que ser gentil consigo é a mais bonita gentileza ✨🤍
me identifiquei com a Sabrina mais que eu gostaria haha
às vezes dá vontade de largar tudo e ser meio Rita Lee, mas é difícil lidar com a nota baixa do app. Kkk